terça-feira, julho 04, 2006



TRANSPORTAR OU TRASNTORNAR? EIS A QUESTÃO!

Talvez um dos maiores problemas atuais do Brasil e principalmente do Distrito Federal seja o transporte coletivo. Segundo dados oficias do governo cerca de 37 milhões de pessoas em todo o Brasil não utilizam os transportes coletivos em virtude dos seus altos preços e, segundo o último Censo do IBGE, os transportes são o terceiro ou segundo maior item de gasto no orçamento das famílias, a depender do número de filhos/as. Isso acontece por conta da contradição básica dos transportes públicos: a necessidade popular de um sistema de transportes voltados aos interesses da sociedade e sua realidade versus as oligarquias empresariais, que não abrem mão do seu lucro. Assim, precarizam os transportes ou aumentam os preços cada vez mais. Geralmente, em cidades com transportes de qualidade, os preços são muito caros, fazendo recorte de classe. Já em cidades onde os transportes têm preços mais acessíveis a qualidade do serviço é péssima.
No DF, a máfia dos transportes é controlada pela família Matsunaga, o senador Valmir Amaral e Wagner Canhedo, que insistem em não abrir a caixa preta de suas organizações. Aqui a realidade dos transportes atinge sua pior dimensão: serviços péssimos e preços historicamente exorbitantes! Nessa perspectiva, surgiram várias mobilizações contra o sistema de transportes no DF. Mais recentemente, a partir de 24/06/2005, incentivadas também pelo MPL - DF (Movimento Passe Livre), chamando a atenção da população para a questão dos transportes. Vale lembrar que o MPL – DF não foi criado nessa data, mas sim a jornada de lutas, obtendo grandes conquistas. Mesmo assim, em 1º/01/2006, o GDF (Governo do Distrito Federal) autorizou o aumentou do preço das tarifas de ônibus e do metrô. A justificativa para o aumento seria a de que os empresários estariam operando no vermelho por conta de um aumento de 8,5% para os rodoviários, além do aumento do preço da borracha e do diesel. O MP (Ministério Público) desmascarou o esquema de corrupção observando que um aumento de 17% já cobriria todos os gastos reivindicados pelos empresário, mas o aumento escolhido pelo GDF foi o maior dos planos oferecidos: cerca de 36%. Ainda em 2006, muitas pessoas foram presas em diversos locais do DF, corroborando o que o porta-voz do GDF, Paulo Fona, alegou, em caso das manifestações continuarem.
Sendo assim, a população pergunta o que significa um aumento das tarifas com tantos problemas. A frota já ultrapassa 9 anos de uso, o que é ilegal. Os motores, por esse motivo, emitem ruídos acima do nível de decibéis permitidos em lei, comprometendo a audição de passageiros e principalmente dos rodoviários. Pelo mesmo motivo, acabam poluindo o meio ambiente com uma maior emissão de monóxido de carbono na atmosfera terrestre. As planilhas de custos são guardadas a sete chaves pelos empresários e mesmo a Secretaria de Transportes do DF tem dificuldades para acessá-la. O Sindicato dos rodoviários tem um estudo bastante amplo sobre poluição do ar e sonora causada pelos ônibus e também sobre a planilha de custo das empresas. Os ônibus não tem nenhum tipo de suporte às pessoas com necessidades especiais. Como exemplo, pode-se citar Curitiba, onde o cadeirante pode entrar no ônibus sem precisar de ajuda. O papel do movimento estudantil não deve ser o de negociar com governo e empresários uma tarifa menor, como ocorreu em Salvador em 2003, na "Revolta do Buzú", quando agentes burocratizados da UNE e UBES negociaram com o governo à revelia dos interesses populares. O movimento estudantil deve, sim, negar qualquer aumento de tarifas e lutar por um sistema de transportes justo. Os empresários já tem muito lucro e somente o controle popular do sistema de transportes garantirá um efetivo deslocamento da população com respeito ao meio ambiente e sem servir à interesses particulares de empresários.
Por fim, vale lembrar que a organização geográfica do Distrito Federal (do centro para as periferias, com largas distâncias entre Brasília e as cidades satélites) faz com que a exclusão geográfica tenha os transportes precários como elemento fundamental. Não só transportes coletivos entram nessa história, uma vez que a cidade possui uma alta taxa de veículos automotivos por pessoa (segundo dados oficiais, cerca de 6 mil carros novos entram em circulação no DF a cada mês). Além da grande poluição, a ditadura do automóvel que temos na cidade já está criando grandes engarrafamentos e transtornos urbanos. Com um sistema de transportes públicos de qualidade, e de preços acessíveis - ou gratuitos, subsidiados por exemplo pelos fundos de impostos que damos ao estado -, tanto o problema da exclusão geográfica como o da alta taxa de carros em circulação seriam parcialmente resolvidos. Mas não por completo, uma vez que a dependência da população a veículos automotivos permaneceria. Por isso, aliado à coletivização verdadeira dos transportes, faz-se necessária a luta por políticas públicas em favor de outras formas de circulação de pessoas - como por exemplo as ciclovias por todo o DF.
Nessa perspectiva, nossas concepções de transportes visam:
- Dialogar com as entidades que trabalham a questão dos transportes, como o MPL e o sindicato dos rodoviários, dentre outras.
- Promover debates sobre transportes, chamando representantes do MPL, governo, empresariado, rodoviários, sociedade civil e outros;
- Estudar a construção de uma ciclovia na UnB, tendo em vista o grande número de ciclistas;
- Incentivar formas alternativas de transporte, como a bicicleta.
- Campanha de incentivo a carona na comunidade universitária, evitando problemas com estacionamento e ajudando o meio ambiente;
- Estudar a possibilidade da reitoria estender o percurso do microônibus até a Rodoviária do Plano-Piloto ou aumentar a periodicidade da linha 110 e, além disso, reivindicar que outras linhas que não passem no Campus comecem a passar, conforme demanda;
- Lutar contra qualquer aumento de tarifas e pela revitalização do Sistema de Transportes do DF.

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