quarta-feira, março 28, 2007




Alunos africanos têm moradias incendiadas no campus da UnB

Do CorreioWeb
28/03/200715h38-Alunos africanos da Universidade de Brasília (UnB) foram vítimas de ação racista na madrugada desta quarta-feira. Por volta das 4h, as portas de três apartamentos do bloco B da Casa do Estudante Universitário (CEU) foram incendiadas. Os moradores acordaram com o cheiro forte da fumaça, que se alastrou pelos corredores. Foi ouvido também o barulho de uma explosão, possivelmente de uma bomba caseira. Responsáveis pela ação ainda esvaziaram os extintores de incêndio do primeiro e segundo andar para impedir que o fogo fosse debelado. Todos os apartamentos onde moram estudantes africanos tiveram as portas marcadas com cruzes vermelhas. O aluno de Administração de Empresas, Samory de Souza, divide o apartamento 106 com mais três amigos, todos de Guiné Bissau. Ele conta que um deles acordou sufocado com a fumaça e, desesperado, acordou os outros companheiros. “Eu só levantei por que meu amigo alertou sobre a fumaça. Desesperados, pulamos a janela e fomos procurar pelos extintores. Nenhum funcionava, só um do terceiro andar”, conta. As senegalesas Racky Sy, estudande de Letras e Wolette Thiam, que freqüenta o curso de Arquitetura, moram no apartamento 105. A porta foi consumida pelo fogo. Para Racky, os incêndios comprovam o racismo que existe dentro da UnB. “Sem dúvida nenhuma isso foi motivado pelo racismo e pelo preconceito”, diz. As duas alunas reclamam da falta de vigilância na CEU. “Aqui não tem segurança. De madrugada você não acha ninguém e, quando acha, estão dormindo profundamente”, diz Racky. Recorrente As manifestações de racismo são comuns na morada estudantil. No mês passado, as paredes dos corredores foram pichadas com frases de repúdio aos africanos. Na ocasião, segundo os alunos, a UnB teve todo o cuidado para que a situação fosse contornada. “Registramos a queixa na administração. Eles foram lá quando não havia ninguém e pintaram as paredes. Eles nos disseram que a imagem da instituição tinha que ser preservada e que problemas assim tinham que ser resolvidos amigavelmente”, disse Wollet. A futura arquiteta conta que há dois anos essas frases são comuns e que as queixas sempre são registradas. “Uma vez que fomos lá, pessoas da administração chegaram aqui gritando. Eles disseram que estávamos exagerando e que a gente morava aqui de favor. Um deles chegou a dizer que nada garantia que os próprios alunos africanos fossem os autores das pichações”, desabafa. Os moradores dos apartamentos que tiveram as portas queimadas suspeitam que os autores dos incêndios sejam estudantes que moram no mesmo bloco. Eles informaram os nomes dos suspeitos à Polícia Federal, que investiga o caso. Limite De acordo com o presidente da Associação de Moradores da CEU, Geraldo Marques dos Santos Júnior, os conflitos entre alguns alunos brasileiros e africanos são comuns. Ele destaca, no entanto, que nunca havia acontecido algo com tamanha gravidade.“Desta vez a ameaça de morte quase foi consumada. Em um dos apartamentos, o botijão de gás fica do lado da porta. Podia ter acontecido uma tragédia”, diz. Não tenho dúvida que isso foi uma atitude racista de alguém que mora aqui. Chega. Foi o limite. Temos que combater o racismo e o preconceito que existe dentro da UnB”, diz. Ainda nesta tarde, o reitor da UnB, Timothy Mulholand, dará entrevista coletiva sobre o caso.

sábado, março 24, 2007

Recepção aos Calouros: visões sobre extensão e vestibular



Na recepção aos calouros realizada no Centro Comunitário, fizemos rápidas entrevistas informais com alguns estudantes recém-ingressos na Universidade. Perguntamos, de modo geral, se já tinham tido algum contato com projetos de extensão na sua comunidade, o que já haviam ouvido falar e o que sabiam sobre extensão, e se achavam o vestibular uma forma justa de ingresso na universidade.


Ana Paula – 18 anos, Matemática noturno, moradora da Asa Sul
Não sabe exatamente o que é extensão, mas se interessa e pretende fazer.
Aluna do turno noturno, diz que por enquanto não precisará trabalhar.


Felipe – 18 anos, Direito, morador da Vicente Pires. Fez quatro vestibulares até ser aprovado. Acha que o vestibular é justo, pois quem estuda passa. Não teve contato com atividades de extensão na sua comunidade.


Maíra – 18 anos, Comunicação Social.
Ingressou pelo PAS e é moradora do Lago Sul. Acha que o vestibular não é justo, pois às vezes quem sabe não passa por conta do nervosismo, entre outras coisas. Diz não saber direito o que é extensão.


Vinícius – 16 anos, Ciência Política
Sempre estudou em escola pública. Morador da Asa Sul, teve contato com projetos de extensão da UnB no Elefante Branco, onde cursou o ensino médio.

quinta-feira, março 22, 2007

domingo, março 18, 2007


Semana de Luta Contra a Reforma Universitária

Olá a tod@s! Um dos grandes temas que hoje @s estudantes discutem é a Reforma Universitária apresentada pelo governo, que avança no sucateamento e na privatização do ensino público e prioriza a transferência de recursos para os grandes empresários das faculdades privadas.

Tendo em vista a luta pela defesa da Universidade Pública, Gratuita, de Qualidade para tod@s, e que cumpra com sua função social, diversos grupos políticos e indivíduos se reunem hoje no Comitê de Luta Contra a Reforma Universitária - DF. O Movimento Instinto Coletivo é um destes grupos.

O Comitê é um importante instrumento de organização do Movimento Estudantil no DF, que surgiu para barrar aos ataques à educação pública, e que independente das direções do Mov. Estudantil (com destaque para a UNE e o DCE - UnB), que cumprem o papel de apoiar a Reforma e o seu aplicador o governo Lula, o Comitê estará ao lado d@s estudantes para barrar esta Reforma Universitária!

Acompanhe a programação da Semana de Luta Contra a Ref. Universitária:

20/03 (Terça-Feira) - Anf. 11 - 12h
Exibição do Filme BARRA 68 seguido de debate com a Profª Maria Lúcia (SER-UnB) e do Prof. Ricardo Guilen (FEDF e ex-estudante da UnB)

21/03 (Quarta-Feira) - Ceubinho - 12h
Debate sobre a Reforma Universitária com a presença da ADUnB, Oposição SINTFUB, Prof. Rodrigo Dantas(FIL-UNB) e Luiza Oliveira(CASO).

22/03 (Quinta-Feira) - Campus de Planaltina -14hDebate sobre a Reforma com a Professora Patrícia Pinheiro (SER-UnB), Zanata (Letras - UnB) e Diego (Ciências Naturais - Campus Planaltina UnB)

23/03 (Sexta-Feira) - CEAN (Centro de Ensino da Asa Norte) - 10:30
Debate sobre a Reforma UniversitáriaProf. Rodrigo Dantas(FIL-UNB), grêmio do CEAN, Glauco (História - UnB) e Guilherme (Geografia - UnB)

Participem desta luta! Acompanhe as atividades do Comitê e vamos tod@s barrar a Reforma Universitária do Governo Lula!!!

quarta-feira, março 14, 2007




A HISTÓRIA DO SABIÁ QUE SABIA ASSOBIÁ

Parece qui termina
Mas agora é qui começa
Sossega que a saudade
Desce já e faz sua festa

Mas clareia o amanhã
Que a flor também tem pressa
A estrada continua
A lavoura nunca cessa

Com coração sertanejo
E pele de toda cor
Daqui de longe eu vejo
Brasil bruto de dor

É tanta injustiça, fome
Tanto tiro, judiação
Esperança quas´que some
Ou espaia na plantação?

Ai se sêsse diferente
Nem carecia mexê
Mas tão difícil é
Quanto possível parece ser

Os instrumento foram feito
Em caatingas de emoção
Em leituras tão aflitas
Dos lamentos que virão

Cai as folha, fica o tronco,
É assim que a vida cria
Nunca se sente pronto
Se o trabaio é companhia

Depois de tanto estudo
Aprendendo a escutá
Ouve o que há de dentro
Escuta teu sabiá

Ele canta tão formoso
E ensina encantando
Que a beleza dessa vida
É fartura de ser humano.

*cordel do convite dos formandos de psicologia 02/2006 da UnB.

domingo, março 11, 2007


Moção de repúdio à diretoria do DCE-UnB

Vimos por meio desta moção manifestar nosso repúdio face ao descaso da atual gestão do Diretório Central dos Estudantes da UnB pelo fato de não ter ainda regularizado junto à Reitoria da UnB a indicação dos novos representantes discentes eleitos, desde julho de 2006, para os Conselhos Superiores da Universidade.

1. Paralelamente à última eleição para a diretoria do DCE-UnB, ocorreu a eleição dos representantes estudantis para os três seguintes conselhos da Universidade: Conselho Universitário (CONSUNI), Conselho de Administração (CAD) e Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE).

2. Diferentemente da diretoria da entidade, escolhida em eleição no sistema majoritário (a chapa que tiver mais voto, assume toda a gestão), a eleição dos representantes estudantis é feita pelo sistema proporcional (cada chapa indica um número de representantes proporcionalmente ao número de votos que obteve).

3. A diretoria eleita para o DCE-UnB (Chapa “Paratodos”), de acordo com suas obrigações enquanto diretoria da entidade, havia o compromisso de encaminhar imediatamente logo após a sua posse os nomes dos representantes estudantis eleitos e regularizar a situação dos mesmos junto à Reitoria da UnB. Essa obrigação da diretoria sempre esteve bastante explícita para todas as chapas e para a comissão eleitoral. Para isso, primeiro cada chapa deveria indicar seus representantes discentes. Tarefa que foi realizada por todas as cinco chapas até agosto de 2006.

4. Passados sete (7) meses da eleição e cerca de (6) meses que já foram indicados os nomes, a diretoria do DCE-UnB ainda não encaminhou à Reitoria os nomes que há muito já lhe foram repassados.[1]

5. Esse descaso tem feito com que os milhares de estudantes da Universidade de Brasília estejam nos últimos sete (7) meses sem usufruir dos já poucos espaços de representação a que tem direito nos conselhos superiores da UnB.

Diante do exposto, exigimos da diretoria do DCE-UnB uma imediata resolução desse problema. Essa moção faz necessária na medida em que diretores DCE-UnB já foram cobrados mais de uma vez para resolver esse problema e até agora não resolveu.


Brasília-DF, 06 de março de 2007

Assina esta moção:

- Movimento Instinto Coletivo

- Comitê de Luta Contra a Reforma Universitária do Distrito Federal

- Juventude do PSTU

[1] A negligência da diretoria do DCE-UnB foi confirmada ao se ligar para a Secretaria de Órgãos Colegiados da Reitoria no dia 26 de fevereiro de 2007 e se constatar que até então não havia nenhum nome encaminhado pelo DCE-UnB ainda.

quinta-feira, março 08, 2007

Salvem as mulheres também*



Brasília, 8 de março de 2007.

Rafael Ayan Ferreira
Pedagogia – UnB
(61) 9948-9494
ayanunb@gmail.com
http://www.instintocoletivounb.blogspot.com/
www.vibeflog.com/ayanrafael




A luta das mulheres por direitos iguais foi mundialmente conhecida no século XX, mas nunca deixou de existir. Apenas para citar o Ocidente moderno e contemporâneo, a história nos mostra ótimos nomes. Joana D´Arc, que alguns estudiosos entendem ser unicamente um símbolo criado para enaltecer a formação do Estado Francês, liderou um exército e foi morta por "bruxaria". Outra francesa, Olympe de Gouges, pagou com a própria vida por ter escrito a Declaração Universal dos Direitos da Mulher, no auge do liberté, égalité, fraternité iluminista. No país do Renascimento Cultural, Maria Montessouri tornou-se a primeira mulher formada em medicina somente em 1896. Rosa Luxemburgo cessou as manifestações em prol de greve em 1919 para ser guilhotinada. Rosa Parks, além da discriminação de gênero, enfrentou o racismo.


No campo da política não é muito diferente. Somente na América, temos vários exemplos de como há avanços em termos de representação. Nos Estados Unidos, Hillary Clinton desponta como uma das principais candidatas à Casa Branca, defendendo união civil entre pessoas do mesmo sexo num país de puritanos (ao menos nas urnas). No Chile, Michelle Bachelet além de ganhar a presidência ainda expulsou do exército o Capitão Augusto Pinochet Molina, neto do ex-ditador chileno. No Brasil, a ex-senadora Heloísa Helena ficou em terceiro lugar na corrida presidencial de 2006 com o recém-criado P-SOL. A Ministra Dilma Roussef assumiu o comando da Casa Civil com a difícil missão de substituir José Dirceu e acabou por fazer um trabalho ainda melhor. Esse quadro político não seria possível há 100 anos atrás.


A visita de George W. Bush ao Brasil para negociar o etanol tupiniquim e cercar o venezuelano Hugo Chávez ocorre numa data especial. Há exatamente 150 anos, em Nova York, 129 trabalhadoras fabris foram assassinadas num incêndio criminoso por reivindicar melhores condições de trabalho. O país que cospe uma pseudo democracia a todo planeta, não gosta de tocar em como chegou a esse destaque. A anexação do Texas e Alaska, a exploração da mão-de-obra infantil, os danos ao meio ambiente e a não assinatura do Protocolo de Kyoto em nada perdem para os desvarios contras as mulheres dos filmes Hollywoodianos. Essa zombaria generalizada é muito bem identificada por Rachel Soihet, da Universidade Federal Fluminense. Outro ponto que os Estados Unidos fogem ao debate é a tirania sexual que levaram para o Oriente Médio.


Os casos de estupro no Iraque são gritantes e, além disso, como, com e por quem são realizados. Cada vez mais, militares das tropas de ocupação, ou melhor, de invasão, apresentam-se ao Tribunal. As tropas dos Estados Unidos, em particular, parecem liderar o ranking. Depois de imagens divulgadas em 2005 que mostram mulheres sendo torturadas e humilhadas de várias formas em Bagdá, a Auschwitz iraquiana, chegou a vez do sargento Raul Cortez assumir o que fez: segurar uma adolescente de 14 anos enquanto era estuprada por outro militar, ao mesmo tempo em que a família era assassinada. O depoimento foi prestado no dia 20 de fevereiro de 2007. Enquanto Cortez e seus comparsas, também militares, estabeleceram a pena de morte para uma pobre família do Iraque, ele cumprirá no máximo prisão perpétua pela sua bizarrice.


Creio que há concordância de que o caso dos militares não é nada espetacular, tampouco inédito, vindo de um país governado por um facista reeleito como Bush, que ao invés de encerrar a Guerra e retornar com as tropas, vai contra o Congresso e aumenta o número de militares naquele país. Choram mulheres da América por saber o destino cruel de seus filhos e maridos. Choram mulheres iraquianas pelo mesmo motivo e, algumas, deixam de chorar por serem brutalmente assassinadas por quem parece jamais ter ouvido falar na Convenção de Genebra. Enquanto isso, o sexo forte, os homens da ONU e da OTAN, exitam em limitar os poderes de Bush que já está de olho no Irã e Coréia do Norte, para ampliar seus mercados de combustível e exploração sexual.


George Bush, inimigo das mulheres de todo mundo por ser o principal articulador de guerras pelo mundo, visitará a OSCIP "Meninos do Morumbi", em São Paulo, no dia 8 de março de 2007, dia Internacional da Mulher. Certamente não passará na cabeça do tirano as "Meninas de Bagdá", "Meninas de Tikrit" ou ainda "Meninas de Karbala", tão ou mais expostas que as crianças brasileiras, violentadas por quem se diz protetor dos oprimidos. Apesar do avanço obtido com o feminismo, confiando em Deus ou não, são muitas as lutas que travamos atualmente. Devemos salvar a flora, a fauna e, com o exército de Bush à solta, mais do que nunca, salvar as mulheres. Vamos torcer para que os assassinos passem as férias na linda e ensolarada Washington D.C. Copacabana don´t speak english, please!



*Este texto demonstra uma atenção de um indivíduo e não um consenso do coletivo. Veja mais das propostas do Instinto Coletivo no próprio blog.


segunda-feira, março 05, 2007

O Campus de Planaltina – UnB e o Descaso com a Educação

O campus da UnB em Planaltina tem passado por sérios problemas: ausência de restaurante universitário, acervo escasso da biblioteca, falta de professores para completar o quadro, estrutura precária que só comporta novos estudantes até 2008. A contradição entre discurso e prática marcou o processo de escolha dos cursos ofertados. Diferentemente do que foi propagado pela reitoria, não houve diálogo com a comunidade para decidir quais cursos seriam prioridade. Dessa forma, o número de inscritos no vestibular para os cursos disponíveis só cai a cada processo seletivo, explicitando que as demandas da comunidade não são estas.

Além disso, com a descentralização da UnB, ficou escancarado o apartheid educacional existente entre as escolas do Plano Piloto e as escolas públicas das satélites: no último vestibular para Ciências Naturais, das 40 vagas ofertadas, apenas 12 foram preenchidas, pois os estudantes da região não conseguiram atingir nem o argumento mínimo no exame.

Esta situação é decorrente de uma série de ataques que a educação pública tem sofrido por todos estes anos. Desde 2003, já foram cortadas pelo governo Lula mais de R$4,1 bilhões de verbas da educação. Soma-se a este quadro, a Reforma Universitária apresentada pelo governo, que avança no sentido do sucateamento e da privatização do ensino público e prioriza a transferência de recursos para as faculdades privadas. O projeto baseia-se na concessão de total liberdade para os empresários da educação e a restrição da autonomia das universidades públicas.

Outra questão colocada no âmbito da Reforma Universitária é a implantação da Universidade Nova, cujas conseqüências seriam nefastas para a Universidade Pública. A proposta prevê os Bacharelados Interdisciplinares, com duração de três anos e que proporcionariam uma formação universitária geral. Após essa formação rebaixada, o estudante ganharia um diploma de bacharel em área geral do conhecimento, e poderia enfrentar o mercado de trabalho. Inexiste a garantia do estudante conseguir vaga nos cursos posteriores, profissionalizantes. A discussão sobre a implantação da Universidade Nova na UnB já está bastante avançada, sendo que existe a possibilidade de ser aplicada no campus de Planaltina em 2008.

A luta por uma Universidade Pública, Gratuita, de Qualidade para todos, e que cumpra com sua função social, perpassa pela luta contra essa Reforma. A organização dos estudantes e da sociedade civil se faz cada vez mais necessária, para que possamos pautar as demandas da comunidade e discutir qual é projeto de expansão da Universidade que queremos.

O Comitê de Luta Contra a Reforma Universitária do Distrito Federal se solidariza com a luta dos estudantes do campus de Planaltina e firma o compromisso pela defesa da educação pública.


Comitê de Luta Contra a Reforma Universitária:
boicotamosoenade@yahoogrupos.com.br



O Comitê de Luta Contra a Reforma Universitária é formado por diferentes grupos políticos e indivíduos que lutam por uma Educação Pública de qualidade. O Movimento Instinto Coletivo é um dos grupos que compõem o Comitê. Participe você também! A próxima reunião será no dia 10/03 (sábado) às 14:00, na ala norte do Minhocão - UnB, sala B1 483.


Diego Vaz
Ciências Naturais - UnB
8148-9758

Luiza Oliveira
Ciências Sociais - UnB
9158-1122
Como se fosse amanhã*

Brasília, 05/02/2007


Rafael Ayan
Pedagogia – UnB
(61) 9948-9494
ayanunb@gmail.com
www.instintocoletivo.blogspot.com
www.vibeflog.com/ayanrafael

O sonho de muitos brasileiros é cursar uma universidade, de preferência de qualidade e, melhor ainda, sem pagar por isso. Tratando-se da Universidade de Brasília, todo semestre, cerca de 2000 pessoas podem realizar esse sonho. São em sua maioria jovens, com sede de conhecimento e os hormônios mais aguçados do que nunca, gerando uma hiperatividade comum para a idade. A busca pelo novo apenas começou e a novidade é mais que bem-vinda como também recomendada. Os vizinhos passam a cumprimentar, ou de outra forma. Você se olha no espelho e diz: eu passei na UnB, que massa véi! Entretanto, independentemente de qualquer geração, 3 eixos estão ligados diretamente aos calouros: trote, perspectiva profissional e concepção de universidade pública.



A história do trote não é das mais bonitas. Atravessando séculos, vem de uma época onde os filhos dos nobres usavam os filhos da emergente burguesia para marcar território, numa espécie de ritual. Sim, costumavam marcar, seja pelo corte de cabelo ou pela humilhação pública, aqueles que não deveriam entrar na universidade, por não pertencerem à classe dominante, à classe privilegiada – a luta do está incluso com o não pertence, matematicamente falando. Filhos contra filhos, a universidade, desde aquela época, já era sinônimo de status. Hoje em dia a prática do trote é bastante discutida no meio acadêmico, volta e meia ganhando os noticiários quando há algum abuso, como atentado ao pudor ou então a morte. Felizmente o movimento estudantil organizado, com todas as suas divergências, torce e luta por algo em comum: o trote solidário. A mudança no rumo do trote vem felicitar principalmente os mais tímidos, que não sabem se defender dos carrascos, ou melhor, dos veteranos que aplicam o trote tradicional. O trote solidário é uma forma de integrar o calouro e não de excluí-lo, de pressioná-lo, sacanear mesmo.

O mercado de trabalho, ou campo de atuação, como preferem os humanistas, é outro ponto que não sai da cabeça dos calouros. Muitos deles sonharam em fazer outro curso mas devido à pressão dos pais, da mídia, do alterego, aquele que é qualquer coisa menos um candidato ao curso que desejara migra para tirar o peso das costas. Quantos calouros não realizaram testes de orientação vocacional profissional nos cursinhos pré-vestibulares? Muitos. Quantos deles sabem que os referidos testes são copiados, em grande parte, de um contexto de 1920 nos Estados Unidos para direcionar os filhos da elite para um futuro financeiro próspero? Poucos. Basta olhar se no teste de algum amigo, ou mesmo na tabela de respostas do teste (existe isso também), há profissões como pescador, artesão ou pintor. Fora isso, discutindo o futuro profissional, há os infinitos guias de trabalho, os intercâmbios, as indicações profissionais dos jornais, os estágios supervisionados da própria universidade, o conhecido QI (Quem indica) do primo da vizinha do tio e, claro, a internet, esse meio tão longe e tão perto. O quê fazer com um universitário parece ser a pergunta mais difícil de ser respondida.

O último ponto é certamente o que gera mais debate. Afinal, que idéia de universidade tem os calouros? Quem paga a conta para quem estuda gratuitamente? Qual o papel da universidade (Reitoria, movimentos sociais como o estudantil, sala de aula) na formação política dos calouros? Segundo dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), vinculado ao MEC (Ministério da Educação), em 2005 o Brasil contava com 4.453.156 estudantes no Ensino Superior. Desses, o número de matriculados no ensino público não chegava a 10%. A maioria esmagadora dos calouros nunca vai fazer parte do movimento estudantil. Acham que não vale a pena, que há outras prioridades, que melhor mesmo é aproveitar as festas e beber uma quantidade impossível de cerveja. Enquanto isso, nossos patrocinadores, como o seu Zé, carroceiro de Ceilândia, a Jovelina, cabeleireira de Samambaia, Dona Maria, costureira de Vicente Pires e milhões de brasileiros que pagam impostos e sustentam a universidade, esperam o retorno. O palco é pequeno para tanta gente e o show mais uma vez não é aberto ao público. Triste saber que tantos calouros que passaram pela universidade não fizeram nada para mudar o quadro. Porém, como a esperança é a última que morre, acredito que nesse semestre vai ser diferente. Eu sempre acreditarei nisso!

Assim começa mais um semestre na Universidade de Brasília. O sonho acabou, ao menos por enquanto, para alguns, tornando-se realidade para outros. O ingresso na universidade é uma conquista, importante até, mas não é o fim do caminho. Há muito o que se fazer na e pela universidade, para todos os segmentos da sociedade. Preparem-se para se apaixonar, chorar, rir, virar noites estudando e tirar MI, não estudar nada e tirar SS, e sentir saudades do playboy e do bicho grilo que pagavam a mesma aula com você. Aliás, se não fossem assim, não seria universidade. A aflição pelo trote é grande. A ansiedade pelo estágio idem. A busca de algo maior que a sala de aula, como o movimento estudantil ou a extensão, nem tanto. Começando o semestre, como se fosse amanhã, escrevo como se fosse ontem. Já disse Elis Regina: “ainda somos os mesmos, e vivemos, como nossos pais”. Calouros, sejam bem-vindos à Universidade de Brasília.



*Este texto demonstra uma atenção de um indivíduo e não um consenso do coletivo. Veja mais das propostas do Instinto Coletivo no próprio blog.