terça-feira, setembro 30, 2008

Movimento Estudantil independente e partidos políticos




Um segmento grande e crescente no movimento tem reivindicado a caracterização “independente”, que se constitui em um contraponto à caracterização “partidária”. No entanto, em vários casos parece existir certa confusão na compreensão do que é ser um coletivo ou um militante independente. Ser independente, freqüentemente, é compreendido como não ser filiado a nenhum partido, e em alguns casos extremos parece ser compreendido como ser anti-partidário. Talvez não deva ser de impressionar muito o fato de o senso comum estar cada vez mais contra a atuação dos partidos na organização das massas, sob justificativas como oportunismo e “politicagem”. Dentro do pensamento de esquerda brasileiro, há grande consenso de que vivemos um momento de refluxo nas lutas sociais, com forte prejuízo da consciência de classe e da necessidade de organização popular. Isto se reflete na rejeição crescente aos partidos cuja estratégia é atuar junto aos diferentes tipos de movimentos sociais, como por exemplo o movimento estudantil. Porém, se não devemos nos impressionar com a rejeição aos partidos políticos pelo cidadão comum, o crescimento deste anti-partidarismo entre os militantes do movimento estudantil é motivo de preocupação. Parece haver uma compreensão equivocada do que seja um partido e qual o papel político que ele deve desempenhar.
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Entre várias pessoas, inclusive militantes independentes, é comum o sentimento de desconfiança em relação a pessoas com filiação partidária. Existe a sensação de que o único interesse destas pessoas é lutar pelas posições do partido e usar as entidades e espaços políticos para promover suas legendas. Este sentimento é alimentado por várias práticas questionáveis usadas com freqüência pelos partidos. Tais práticas incluem levantar bandeiras do partido em uma manifestação, mesmo que seja acordado não fazê-lo; mobilizar militantes afastados para ganhar votações em reuniões de CA, DCE, etc; assinar convocatórias e fóruns sem contribuir efetivamente nos trabalhos organizativos, e depois propagandear que estão construindo a luta nestes espaços, entre outros. Porém, atribuir este tipo de comportamento apenas aos partidos políticos é um equívoco. É próprio da disputa na arena política fazer uso de meios desleais, principalmente quando há forte polarização. Inclusive, os setores politicamente e economicamente dominantes da sociedade, como a indústria e o agronegócio, possuem um amplo repertório de subterfúgios para manter sua hegemonia, porém a resistência que o senso comum lhes impõem é mínima. Devemos sim fazer a crítica ao papel que os partidos desempenham, mas é preciso tomar muito cuidado nesta crítica para não ir além dos limites do preconceito, principalmente diante da campanha da grande mídia.
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Na base do sentimento anti-partidarista está uma compreensão equivocada do papel que o partido político desempenha. Um partido pode ser definido como um agrupamento de pessoas, de diferentes segmentos e classes, que compartilham um projeto de sociedade e uma estratégia para atingi-lo. Os partidos de esquerda normalmente apostam na estratégia da organização das massas para adquirir uma consciência de classe que viabilize uma revolução socialista. Portanto, seria de se esperar que estas pessoas atuassem de acordo com a formulação dos seus partidos. Porém, muita gente fica surpresa ao ver militantes de diferentes lugares do país, filiados a alguma legenda, atuando de forma semelhante, como se fosse combinado. Não se trata de conspiração, é natural que eles hajam desta forma, assim como é natural que militantes de um coletivo autônomo defendam a posição do seu coletivo nestes mesmos espaços. Cada um é partidário do que acredita, a crítica aos partidos políticos não deve partir daí.
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Para além da crítica à atuação dos partidos políticos, é fundamental que fique claro qual o papel deles para o Movimento Estudantil. Além disso, e talvez mais importante, enquanto o movimento estudantil possui um caráter altamente dinâmico e instável pela transitoriedade dos seus militantes, o partido é perene, podendo prestar um auxílio fundamental na continuidade das lutas estudantis.
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Diante destas reflexões, talvez seja ingenuidade considerar que o Movimento Estudantil deva se livrar dos partidos políticos, que os CAs DCEs, e executivas de curso não devam ser constituídos por estudantes filiados a alguma legenda. Evidentemente não devemos nos furtar de fazer as devidas críticas, e que sejam muitas, mas que sejam fundamentadas no diálogo e em argumentos sólidos, e não em convicções preconceituosas. A mídia comercial já faz muito bem o papel de perseguição aos movimentos sociais e partidos de esquerda. O Movimento Estudantil deve ser parceiro, e cobrar a parceria dos partidos. Uma parceria de luta, rumo à organização popular.

2 comentários:

Ciência Brasil disse...

Ótimo texto !

parabens

MHL

Raoni disse...

Obrigado, Marcelo. Mas eu achava que você fosse contra os partidos políticos, principalmente os de esquerda.